terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Será a Índia o país do Futuro?

Será a Índia o país do futuro? (crónica de viagem)
Realizou-se em Delhi, no final do mês de Novembro, mais um Congresso Mundial de Recursos Humanos e Formação da IFTDO (International Federation for Training and Development Organizations).
Cerca de mil participantes, um painel de oradores muito representativo das diversas escolas de gestão, uma organização a merecer algumas críticas.
Como não podia deixar de ser – principalmente após termos acolhido aqui em Lisboa o congresso anterior –, Portugal esteve representado através de delegados e de dois membros da Direcção Nacional da Associação Portuguesa dos Gestores e Técnicos dos Recursos Humanos (APG) – eu próprio e Vítor Carvalho.
Tive a cargo – juntamente com John Stevens, do CIPD − um 'workshop' sobre «High Performance Work», além de ter sido 'keynote speaker' numa sessão plenária sobre «Corporate Citizenship».
Os membros da Direcção Nacional da APG participaram ainda nas diversas reuniões do Board e dos comités da IFTDO (Vítor Carvalho é membro do Comité de Coordenação de Congressos), tendo eu sido eleito director, para um mandato de dois anos, na respectiva Assembleia Geral.
Assim, a APG é uma das poucas organizações a contar com dois representantes seus nos órgãos dirigentes da IFTDO, o que prestigia os profissionais portugueses de recursos humanos.
O momento alto do congresso foi a sessão de abertura, que contou com a presença de Sua Exa. o Presidente da República da Índia. Numa intervenção vibrante e apaixonada – que os leitores podem encontrar no 'site' respectivo −, contou episódios da sua experiência profissional como cientista, tendo recebido dos participantes aplausos entusiásticos. Deu um contributo fantástico para os trabalhos do congresso, pois criou uma atmosfera propícia ao debate e à troca de experiências pessoais e organizacionais.
Neste tipo de iniciativas, a curiosidade maior reside sempre na tomada contacto com as características do próprio país, tentar perceber diferentes culturas e realizações e, no fundo, estabelecer comparações com as nossas próprias realidades.
A Índia é uma país fascinante. A sua população está quase a alcançar os números da China – dentro de dez anos, a crescer ao ritmo actual, a Índia será o país mais populoso do mundo. Apesar disso, conseguiram garantir a auto-suficiência alimentar (uma tarefa notável), marcam o ritmo em diversas áreas do conhecimento (tem algumas das melhores escolas do mundo de engenharia) e a sua economia cresce a ritmos superiores a 6% ao ano.
Todavia, tem dos mais baixos salários do mundo, índices de pobreza elevados, problemas no abastecimento de água, situações ambientais fora de controlo.
Digamos que é um país que se encontra numa encruzilhada: ou abranda o crescimento e desenvolve os padrões, ou continua a crescer agravando os problemas existentes. No fundo, é um problema que afecta muitas outras nações do globo e que constitui hoje um desafio recorrente mesmo para países com níveis de desenvolvimento assinaláveis. Portanto, por aí, não está em circunstâncias muito diferentes.
Mas o que realmente surpreende na Índia é a política educacional e formativa. Hoje, é o país da Ásia com maior taxa de formação de licenciados – em escolas e universidades de muito boa qualidade –, sendo um «exportador» clássico de licenciados para as economias europeias e, nomeadamente, para a norte-americana.
Durante o congresso, foi notável a participação dos estudantes universitários, intervindo nos debates, aproximando-se dos oradores, criando a sua própria 'network' de relações.
Mas essa política educacional tem que ser agora complementada com o reconhecimento salarial respectivo, pois os baixos salários dos licenciados já começa a criar problemas de recrutamento de novos alunos. Muitos jovens já não querem ir para a universidade e estabelecem-se com negócio próprio, pois o salário expectável não compensa o esforço nem o tempo necessário à obtenção de uma licenciatura.
Mas, apesar de todos estes problemas, acho que a Índia será o país do futuro, na Ásia, se conseguir ligar às conquistas económicas a melhoria das condições sociais e ambientais. O facto de ser a maior democracia representativa do mundo é uma garantia acrescida, apesar de subsistirem problemas de relacionamento com os vizinhos do Norte (o Paquistão), aparentemente numa fase de degelo.
Se calhar, é tempo de olharmos para a Índia com outros olhos e reatarmos laços de maior proximidade, aproveitando algumas heranças históricas que partilhamos.
'Swaget'!

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