A felicidade
Por Luís Bento*
A estrada da tua felicidade não parte das pessoas e das coisas para chegar a ti; parte sempre de ti em direcção aos outros.
Michel Quoist
A busca da felicidade é um processo eterno. Existe desde que existe humanidade, e existirá até que a humanidade seja capaz de preservar a sua existência, independentemente do local onde isso aconteça.
A busca de felicidade é um processo eterno porque é um processo humano e, tal como todos os outros processos humanos, é um processo contraditório, conflituoso, não-linear.
Muitos dizem que a felicidade – enquanto estado permanente – não existe, existindo sim «momentos de felicidade».
Outros dizem que «são felizes», como que permanecendo na felicidade durante um período de tempo quase infinito, sem mutações, sem variações, sem infelicidade enquanto «não-felicidade».
A maior parte, ao mesmo tempo que diz «não ser feliz», está conformada com a sua «não-felicidade, bastas vezes sem conseguirem vislumbrar se nesse «não-ser feliz» não estarão escondidos muitos momentos de felicidade.
Alguns, os peregrinos, não se precocupam em «ser» felizes(1), mas procuram – procuram sempre – de forma incansável algo que consideram inatingível. A sua realização não está em encontrar, mas em procurar; não está no ser, mas no «ir sendo»; não está na felicidade – enquanto estado que se alcança e do qual não se sai –, mas na fruição do momento, na vivência da liberdade de sair da felicidade sempre que quiserem.
Os peregrinos, porque têm uma enorme capacidade de sentir todos os sentidos e todas as emoções, relativizam o encontrar, quase o desdenham. Para eles, sentir e viver é mais importante do que alcançar. Desejar é mais importante do que ter. E possuir é a negação do desfrutar.
Portanto, alcançar um estado de felicidade ao menos uma vez na vida só está ao alcance dos peregrinos, pois todos os outros querem a felicidade para a possuírem e não para desfrutarem da magia dos momentos, das emoções, das sensações.
Este processo de percorrer os caminhos da procura dos momentos felizes não é, de forma alguma, um processo solitário, pois essa busca é feita com os outros, através dos outros e ajudando os outros. Nesta medida, a busca dos momentos felizes é um processo colectivista, pois quantos mais percorrerem esse caminho, maiores são as probabilidades de alguns sentirem aquele momento único de alquimia e de amor, onde as emoções fecundam os sentimentos ao mesmo tempo que a alma se revela. Como se fosse um milagre.
Fazer acreditar que existe uma felicidade – enquanto estado permanente – é, pois, um verdadeiro atentado que paralisa todo o processo de descoberta da vida.
Tentar levar alguém a procurar a felicidade dentro de si próprio, sem os outros, é a negação da realização pessoal.
Ajudar a que cada um, com os outros e através dos outros, faça a peregrinação da busca é, talvez, o maior feito a que cada um de nós pode almejar.
A felicidade é, por isso, uma estrada. Uma estrada cheia de encruzilhadas e que não tem uma direcção definida, uma estrada flexível que cada um adapta à sua direcção, ao seu norte. E o norte de cada um pode ser o desnorte, ou seja, o «não-norte», pode ser uma direcção qualquer, em qualquer momento, por uma qualquer estrada, em qualquer lugar.
Mas uma estrada para ser percorrida sempre na direcção dos outros e com os outros, sem solidão e sem inquietude, com alegria, com partilha, com festa.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário