terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Os 14 Segredos de Mourinho

Muito se tem dito e escrito sobre José Mourinho enquanto treinador de futebol!
Primeiras páginas de jornais prestigiados – desportivos e generalistas – enchem-se de parangonas sobre os “fait divers” da vida de Mourinho, das declarações de Mourinho, das opções de Mourinho.
Mas o que, de facto, torna José Mourinho um treinador de futebol de eleição?
Apesar das análises constantes dos livros que, sobre si, encheram os escaparates das livrarias, parece-me que, no fundamental, pouco ainda se disse sobre o que, de facto, torna José Mourinho tão especial.
Vejamos algumas características únicas:
a) É um treinador que, no início da época, entrega aos jogadores um DVD com toda a informação sobre o respectivo papel individual e colectivo, a metodologia de treino que têm de seguir, os papéis que têm que desempenhar na equipa, o que a equipa e o treinador esperam do jogador, bem como uma análise global dos objectivos específicos que o jogador tem que atingir para justificar ser uma opção para o treinador. Informa os jogadores do contexto específico em que vão realizar o seu trabalho;

b) Informa-se detalhadamente sobre cada jogador das equipas adversárias, suas características físicas e técnicas, estatísticas de produtividade, experiência, estrutura emocional. Transforma dados em informação e informação em Inteligência Futebolística (IF);

c) Define com rigor os papéis de cada elemento da equipa técnica e do Departamento de futebol que recebem uma Job Description detalhada, contendo e definindo todas as responsabilidades individuais e todas as interacções que cada um deve estabelecer no quadro da equipa. Define os papéis de cada um.

d) Optimiza todos os factores do treino e do jogo. Não deixa qualquer probabilidade ao acaso. As suas decisões sobre o treino e sobre o jogo, reflectem imensas horas de estudo prévio. Prepara alternativas para todos os imprevistos que possam ocorrer, mesmo aqueles que nunca podem acontecer... mas acontecem! Preparação estratégica de acordo com a metodologia prospectiva (teoria dos cenários) ;

e) Apesar dos aspectos científicos, vê o futebol e o jogo em particular, como um choque de emoções. Revela uma Inteligência emocional acima da média e usa-a para despertar emoções nos seus jogadores e nas equipas adversárias. Não cedeu á visão matemática do jogo. São seres emocionais que são geridos de forma emocional. Dramatiza as situações como ninguém;

f) Durante o jogo, vê o essencial, ou seja, se a estratégia que preparou está a ter o efeito previsível sobre o adversário. Controla o efeito estratégico;

g) Os pequenos detalhes durante o jogo, foram todos preparados de antemão. Nada acontece por acaso. Ao contrário do que se diz, não é teimoso, pois se verifica que as coisas não estão a funcionar como planeado, avança com o “plano B” ou com o “plano C”. Demonstra coragem no momento de escolher opções;

h) Dialoga permanentemente com os jogadores, mais a nível individual que colectivo. Assim que detecta quais os pontos fortes do jogador, explora-os na sua plenitude e não se preocupa com os eventuais pontos fracos. Usa o potencial de cada um;

i) Não admite faltas de responsabilização por parte dos jogadores. Se um jogador se desrespeita a si próprio, não cumprindo os objectivos a que se propôs e dessa forma prejudica a equipa, chama-o á atenção em frente dos colegas. Trabalha em equipa e como equipa;

j) Não tem apenas um curso de treinador e uma licenciatura. Durante cerca de dez anos adquiriu competências em todos os domínios, ou seja, aprendeu a saber-fazer. E fê-lo, com humildade, ao pé dos Mestres;

k) Preparou devidamente toda a sua ascensão ao topo e quando lá chegou, já conhecia as estratégias de comunicação que deveria desenvolver. Mas fê-lo com um cunho pessoal, não copiou ninguém. Revelou identidade;

l) E porque vivemos no mundo do simbólico, soube usar isso em seu favor como ninguém. Criou uma imagem distintiva e trabalha para a manter. Demonstra o que acha que deve demonstrar e não deixa de ser quem é. Apesar da exposição preserva a sua intimidade e a sua vida familiar;

m) E enquanto muitos procuram imitá-lo ele já está a pensar como pode optimizar o seu próprio rendimento e o rendimento dos que o rodeiam;

n) Usa a estrutura organizativa como factor de enquadramento e de responsabilização humana. O modelo organizativo não existe por si mesmo. Tem uma função específica de superação das fragilidades humanas;

Se repararem nos sublinhados, temos;

- modelo organizativo
- rendimento
- imagem distintiva
- competências
- trabalho em equipa
- utilização do potencial individual
- coragem
- controlo da estratégia
- dramatização
- identidade
- inteligência futebolística
- definição dos papéis individuais
- definição do contexto
- estratégia prospectiva.

O segredo de José Mourinho não é conhecer estas dimensões da gestão de pessoas e recursos, muito embora sejam raros os treinadores de futebol que as saibam entender. O segredo de José Mourinho é optimizar cada dimensão da gestão de uma forma integrada e sem vacilações, fazendo-o com a profunda convicção de quem sabe que trabalhou muito e que anda deixou ao acaso.

Não se admire o leitor se, num qualquer livro de gestão, encontrar por aí estas recomendações para quem está ao leme de uma empresa, pois, na verdade, o futebol, é a verdadeira essência do significado da expressão “empresa”: conjunto de pessoas que se propuseram atingir algo em conjunto.
Nunca falei com José Mourinho nem sei sequer se ele vai ler este pequeno artigo. Mas tenho a certeza que, se o fizer, vai fazer um enorme sorriso e sentir-se reconhecido. “Até que enfim que alguém compreende o que ando a fazer”, dirá!
E se tal acontecer eu sorrirei também!

1 comentário:

Ob Agency disse...

Costuma-se dizer que o mundo é pequeno... e é caso para dizer que a Internet também o pode ser.

Quem diria que ao fazer uma pesquisa sobre O Segredo de José Mourinho, ia encontrar um Artigo que foi merecedor da minha total atenção... e qual é o meu espanto foi escrito por alguém que eu conheço e que é meu familiar.

Tio... parabéns pelo Artigo

Um grande Abraço,

Octávio Bento