A inteligência
Especializada, espacial, emocional, matemática, tridimensional ou simplesmente simples, a inteligência é, claramente, um estado camaleónico, tão diversas são as formas que pode assumir.
Além de propriedades do ser (ser inteligente), também tem propriedades do ter (aquela pessoa tem inteligência).
A inteligência é assim uma das poucas virtudes – será? – humanas que assume em simultâneo propriedades do ter e do ser.
Mas o que é a inteligência? Um dom? Algo inato? Uma capacidade que se desenvolve com o tempo?
Uma equipa de investigadores da Universidade de Harvard, liderada pelo psicólogo Howard Gardner, propõe que se fale de inteligências – no plural – e identifica sete tipos diferentes e complementares de inteligência. A saber:
- lógico-matemática – capacidade de analisar problemas, operações matemáticas e questões científicas (matemáticos, engenheiros, cientistas);
- linguística – sensibilidade para a língua escrita e falada (oradores, escritores, poetas);
- espacial – capacidade de compreender o mundo visual de modo minucioso (arquitectos, desenhistas, escultores);
- musical – habilidade para tocar, compor e apreciar padrões musicais (músicos, compositores, dançarinos);
- físico-cinestésica – potencial de usar o corpo para a dança e o desporto (mímicos, dançarinos, desportistas);
- intrapessoal – capacidade de se conhecer (escritores, psicoterapeutas);
- interpessoal – habilidade de entender as intenções, as motivações e os desejos dos outros (políticos, religiosos, professores).
Nos últimos tempos, a equipa de investigadores agrupou as duas últimas como inteligências pessoais e sugeriu mais duas categorias:
- naturalista – capacidade de reconhecer e classificar espécies da natureza;
- existencial – preocupação com questões fundamentais da existência.
Nesta acepção, teríamos pois, actualmente e para a equipa citada, oito categorias de inteligência. Todavia, se juntarmos a inteligência emocional sugerida por Daniel Goleman, estaremos então a falar de nove tipos de inteligência.
No fundo, a busca do entendimento sobre o que é a inteligência tem conduzido a uma categorização das suas diversas formas, ou melhor, das suas diferentes «revelações».
Mas será que é possível revelar apenas uma das formas de inteligência? Para demonstrarmos uma inteligência «regular», «média», de quantos tipos de inteligência precisamos?
Estas são as questões que a ciência ainda remete – e muito bem – para o domínio do senso-comum; ou seja, em função das circunstâncias e perante cada momento concreto, a ciência deixa ao critério pessoal arbitrário encontrar uma resposta. Trata-se, no fundo, da maior homenagem que a ciência pode fazer à inteligência.
Apesar disso, e perante uma categorização tão exaustiva, não deveremos procurar encontrar uma definição de inteligência que nos ajude a perceber melhor do que é que estamos a falar? No fundo, uma definição não nos ajudaria a saber identificar quando estamos perante uma das tais categorias da inteligência?
Se olharmos bem para as definições – lá está, cada categoria tem uma definição –, podemos talvez partir em busca de uma definição mais global. Considerando cada uma delas, seria mais ou menos assim. Inteligência é… «a capacidade mental de observar, recolher e analisar informação, de perceber e entender o mundo, de raciocinar, planear, resolver problemas complexos, pensar de forma abstracta, aprender rápido e aprender com a experiência, entender-se a si próprio e entender os outros, saber sentir e manifestar sentimentos, construir conceitos de si próprio e dos outros».(1)
Esta definição – como todas as definições – tem por função ajudar a perceber, de forma condensada, fenómenos e situações com alguma complexidade, mas acima de tudo ajudar a que cada um aplique a definição à sua situação concreta e tente perceber como é que a sua inteligência se manifesta e quais as dimensões que estão presentes de forma perceptível pelos outros e pelo próprio. Ou seja, esta definição vai ajudar as leitoras e os leitores a procurarem resposta para a eterna dúvida: «serei eu inteligente?»
(1)Definição livre do autor desta crónica.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
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